14 de março de 2013

Mude o mundo: comece por você!


Ontem passei o dia ministrando curso de auditoria para controladores internos de dezoito municípios da serra catarinense. Ao final, cansado, recebi sinceros agradecimentos e elogios, que me deixaram muito bem, mas fizeram refletir: será que fico feliz por causa do massageamento de ego proporcionado pelos elogios?

Fiz um pouco disso inconscientemente por um bom par de anos, e sei que não é nada lúcido, tampouco saudável, pautar a existência pela necessidade de reafirmação da autoestima. É o extremo oposto da baixa autoestima, é o excesso, o transbordamento do ego, que causa uma overdose de reações químicas, deixando qualquer um a achar-se super-heroi, até os poderes se acabarem.

Não, o prazer não estava no egocentrismo do bom desempenho, mas na realização pessoal de quem conseguiu transmitir uma boa mensagem e de saber (ou melhor, não ter noção de) o quão vastas e profundas podem ser as mudanças sociais consequentes desse prazeroso dia de trabalho.

Impossível estimar o resultado que cada sementinha hoje plantada terá quando, num futuro cada vez mais próximo, todas florescerem em justiça social para os brasileiros. Uma dica aqui, um estudo de caso ali, outra pressão acolá, e dá para ver nos olhos brilhantes de 30 pessoas que se dispuseram a aprender, encarar o novo, chamar para si a responsabilidade de agir pela evolução coletiva.

Quanta sorte poder mudar o mundo a partir da minha ação! Como é bom saber direcionar o karma para coisas construtivas e positivas! Tenho de agradeçer do fundo do meu coração ao grande educador e escritor DeRose, que me ensinou a enxergar as infinitas possibilidades da existência, para muito além das amarras mentais. Desde 2000 tenho a oportunidade de lecionar e escrever sobre a filosofia de vida por ele proposta, a qual desde sempre operou em mim fortes mudanças.

Transmito informações preciosas, conteúdo técnico e prático sobre fortalecimento da gestão pública, transparência e acesso à informação, controle social e prevenção da corrupção. Não é tese, é a experiência adquirida em dezessete anos de controladoria, de muitos absurdos e impunidade geral.

Mas o faço com a leveza de quem quer ajudar, com a proatividade que faz acontecer, e principalmente com o otimismo de quem não espera e realiza. O "conteúdo" aprendi na controladoria, mas foi com DeRose que pude compreender a "forma" de transmitir conhecimento, desde a didática até a atitude perante os desafios.

Mais um dia disseminando conceitos e técnicas para aprimorar o indivíduo e mudar o mundo!

Obrigado ao meu Mestre, um homem notável.


25 de janeiro de 2013

“Eu acho que eles comeram todos os fundos. Você vê uma escola aqui?"

“ 'Eu acho que eles comeram todos os fundos. Você vê uma escola aqui?'
Esta foi a resposta de um homem de Likoni, uma área muito pobre nos subúrbios de Mombasa, no Quénia, quando lhe perguntaram o que tinha acontecido com mais de US$55,000 que o governo local deveria ter usado para construir a Escola Secundária de Mrima. O homem, nos seus 30 anos, ficava ao lado de um buraco com os seus vizinhos à volta; declaradamente o buraco era onde o Comité de Desenvolvimento do Distrito Eleitoral tinha começado a cavar as fundações para a escola, para depois abandonar o projecto sem explicações. 

De acordo com o representante do bairro, o projecto de toda forma não era o certo. “Ninguém veio à comunidade para perguntar se queríamos uma escola aqui. O que precisamos é um dispensário,” ele disse, enquanto os outros balançavam a cabeça murmurando seu assentimento.

Não tem que ser assim. Os orçamentos governamentais são importantes para todos, e os cidadãos querem saber, e têm o direito de saber, o que têm no orçamento do seu pais. E deveriam existir mecanismos para participação pública e prestação de contas para manter os orçamentos no caminho certo." (Open Budget Survey 2012)

Este é um trecho do resultado de uma pesquisa chamada Open Budget Survey (OBS), que mede, a cada dois anos, a transparência, a participação e a fiscalização orçamentária de países em todo o mundo.
A corrupção é algo tão historicamente arraigado na cultura brasileira, desde os tempos de colônia, que já virou bordão: "não adianta, todos os políticos são corruptos mesmo..."

Mas quem elege os políticos? O povo. Os eleitos são representantes do povo, então pela lógica pode-se pensar que todos os cidadãos são corruptos, porque escolheram dentre seus pares quem os representaria no governo, no congresso, assempleias estaduais, câmaras de vereadores. Você acha mesmo que todo brasileiro é corrupto? Você se o considera?


Vamos adequar essa frase aos novos tempos: "ainda existem muitos políticos corruptos, mas as coisas estão mudando". E não falo de esperança, e sim de dados concretos: nunca se viu nesse país um julgamento como o do mensalão, com políticos famosos sendo condenados a décadas de prisão. Sim, estão mudando, acredite! Mas se não quiser acreditar, pelo menos pesquise, para formar sua própria opinião, em vez de simplesmente repetir aquilo que se ouve dos outros, sem nenhuma propriedade.

Por exemplo, você sabia que o Brasil é o 12º país mais transparente, dentre 100 avaliados pela International Budget Partnership (IBP), à frente de nações como Chile, Alemanha e Espanha? Isso também está na pesquisa Open Budget Survey, mas quantos cidadãos brasileiros sabem dessa informação?

Nem tudo são flores, em contrapartida, embora venha havendo uma evolução anual, ainda estamos mal colocados em outra lista, essa bem desagradável: em 2012 ficamos em 69º de 176 países pesquisados, no ranking global de percepção da corrupção no setor público, publicado anualmente pela ONG Transparência Internacional (TI). O ranking é liderado pela Dinamarca, que tem a menor percepção de corrupção do mundo, seguida de Finlândia e Suécia. A Somália é o país com a mais alta percepção de corrupção, segundo a TI.

É fato, "a transparência e a participação pública podem ajudar a identificar desvios de dinheiro e a melhorar a eficácia das despesas públicas" (OBS). O relatório da IBP também avaliou a força das instituições de auditoria. Nesse quesito, o Brasil recebeu nota máxima (100). Mais um dado real de que nosso país está mudando.

Para encerrar, outra história triste, mas que teve final feliz: "na Índia, a Campanha Nacional para os Direitos Humanos dos Dalit (NCDHR) expôs a forma como o governo desviou fundos para programas para as comunidades Dalit, um dos grupos mais pobres e mais marginalizados na Índia, para financiar os Jogos da Commonwealth de 2010. Recorrendo a relatórios de investigação baseados no acompanhamento e na análise orçamentais, a NCDHR lançou uma campanha de defesa para recuperar o dinheiro, o que resultou numa cobertura mediática disseminada a nível nacional e internacional. Sob esta pressão, o Ministro do Interior da Índia acabou por admitir publicamente que 130 milhões de dólares de fundos públicos para Dalits haviam sido incorrectamente desviados, comprometendo-se a devolver o dinheiro. Até agora, o governo devolveu quase 100 milhões de dólares, que estão agora a apoiar serviços e programas para cerca de 2,4 milhões de Dalits." (OBS)

E no Brasil? O que você está fazendo para cobrar honestidade e resultados de seus representados? 
Porque só reclamar não muda nada, e dinheiro público é da nossa conta.
Esclareça-se! 
 



17 de janeiro de 2013

Fettuccine alla romana

[Post publicado em 22/4/2011]

Depois de muito tempo sem marcar presença na cozinha, hoje brinquei de chef e coloquei em prática aquele que creio ser um dos mais fáceis - e sem dúvida o mais saboroso - dos pratos à base de molhos vermelhos: o fettuccine alla romana.

É simplesmente delicioso!
Esse prato é uma combinação de sabores intensos e marcantes, e recomendo seja apreciado com um excelente suco de uva integral, uma água com gás de primeira, ou quem sabe ambos juntos, meio a meio, bem gelados... mas isso já é papo para outro post.

Vamos à receita mágica (como diz meu amigo Jojó, para o meeeu paladar...). E se você deseja impressionar convidados, prepare seu ego para os elogios...

Para 4 pessoas, um pacote de 500g é suficiente. Mas escolha um fettuccine preferencialmente fresco, ou de excelente qualidade, daqueles mais largos, muuuito largos.

Descasque uma cabeça de alho - ou mais, se você for um apreciador desta iguaria - e corte cada dente em fatias bem fininhas. Ponha o alho para fritar com azeite de oliva, depois que começar a dourar, acrescente cogumelos frescos fatiados, alcaparras e azeitonas pretas inteiras sem caroço.

Deixe fritar mais um pouco e depois acresça 6 a 8 tomates inteiros pelados, daqueles que já vem em latas, para facilitar o trabalho, claro. Afinal, estamos aqui para nos divertir!

Aos poucos, o tomate vai-se desmanchando, mas não queremos que se desfaça por completo, pois os pedaços darão um toque especial ao prato na hora de servir.

Acrescente sal a gosto e tempere com noz moscada em pó, ervas de provence e outras especiarias, sem moderação. A partir daqui, a obra de arte em concepção passa a ser do próprio autor eventual, que é assim co-criador da receita. Esta, por sua vez, passa a ser dinâmica, mutante, pois se aprimora a cada preparo, em cada lar.

Voltando ao sabor da nossa pasta, nesse ponto do cozimento, o tomate soltará bastante líquido, portanto não é necessário acrescentar água, basta deixar fervendo alguns minutos em fogo baixo, com a frigideira tampada ou semi-aberta.

Enquanto isso, a água do fettuccine já está a ferver, podendo ser acrescentado um fio de azeite e um caldo de legumes. Aponha a massa no instante da ebulição e deixe cozer pelo tempo marcado na embalagem. Mas aplique aqui o axioma número 1 do Método DeRose, não acredite: acompanhe a alquimia do cereal na água fervente e desligue o fogo quando estiver al dente, já tendo preparado o escorredor. Este é um momento precioso, pois se a retirada da água não se der rapidamente, nos arriscamos a estragar o ponto da massa e tudo vira uma gororoba.

Pronto, acrescente o molho sobre a macarronada e mais um pouco de azeite, se lhe aprouver.
Para fechar, um queijo grana ralado na hora será o catalisador dessa delícia a embriagar seu paladar e de seus amigos.

E nessa boa mesa, regada ainda a pimenta e depois um café gourmet, o prazer da companhia faz de uma noite de outono aquela experiência sensorial inesquecível.

Buon appetito!

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Vida social digital: um grande paradoxo

Puxa, faz tanto tempo que não apareço por aqui... mais de seis meses!
Parece que estou visitando uma casa antiga, na qual já não mais resido.

Há poucos anos, os blogs surgiram como a grande febre, a novidade que substituiria colunas, sites e até jornais, aquilo que poderia fazer de qualquer pessoa um escritor de sucesso em semanas, e todos teriam seus 15 minutos de fama. Mas a conectividade é tão infinitamente ágil nos nossos dias, que essa onda passou e já temos outra que, de certa forma, está absorvendo os blogs: Facebook.

Nessa rede podemos não só escrever posts, tal qual nos blogs, mas também compartilhar instantaneamente, ler boas publicações, receber notas, avisos e mensagens, curtir, visitar os familiares, encontrar antigos amigos (não velhos...), trabalhar, estudar, viajar, mostrar as fotos da viagem... Ufa! É tanta coisa que nunca usaremos tudo! No blog, podemos escrever muito e bem, mas se o próprio autor não compartilhar no Face, o post provavelmente passará despercebido. Faça um teste se quiser.

Mas é preciso tomar cuidado com dados pessoais publicados. Revise periodicamente o módulo Sobre e confira se cada informação está marcada como Pública ou Exclusiva para amigos e familiares. Isso não apenas por questão de segurança, mas sim de imagem pessoal: muito cuidado com o que você curte, segue ou compartilha. Textos mal escritos, fontes duvidosas, informações falsas, boatos, propagandas. A quantidade de lixo na "nuvem" é diretamente proporcional à infinita criatividade humana.

Se você tiver de escolher entre dois candidatos para contratar, qual escolheria? Um que, mesmo apresentando bom currículo, aparece na sua página em baladas, bebendo e fumando, ou escreve coisas sem conteúdo? Ou outro cujo histórico pode não ser tão bom, mas pelo seu perfil pode-se ver que é organizado, tranquilo, bem família, que curte e compartilha coisas inteligentes? Você vai sair com a gatinha ou gatinho, resolve visitar seu perfil e vê que ele/ela curte Michel Teló. Vai encarar mesmo assim? Não há nenhum problema em curtir a música de vez em quando, dançar, brincar, divertir-se, mas precisa ir até lá curtir a página dele?

Enfim... mesmo com todos os prós e contras - como tudo na vida -, aproveite intensamente essa vida social digital, que aliás é um grande paradoxo: antes, tínhamos poucos amigos, mas os víamos com frequência e intensidade. Hoje, temos milhares, nos relacionamos a cada segundo, mas sem nenhum contato físico. 

Serão essas as relações humanas do futuro?
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