8 de fevereiro de 2011

A lei do menor esforço favorece a quem?


Há uma máxima do capitalismo e da relação patrão x empregado que diz: o empregado trabalha o mínimo possível para que o patrão não lhe mande embora. Já o patrão paga o mínimo possível para que o empregado não vá embora.

Essa relação é completamente neurótica!! É a lei do menor esforço, onde cada um tenta o tempo todo puxar para si a brasa para assar sua sardinha com o mínimo de fogo possível. Mais do que isso, vejamo-la ainda sob alguns aspectos interessantes.

Segundo a mais-valia de Karl Marx, o patrão quer sempre tirar o máximo proveito da sua mão-de-obra, para maximizar seu lucro no negócio. Isso dá a entender que o negócio só é bom para o patrão, ou que este é sempre o vilão da história. E como tal, há um "pré-conceito" do empregado em relação a qualquer patrão: se é patrão, é vilão...

Assim, o comportamento do empregado também passa a ser de "mais-valia inversa", pois ele também passa a querer tirar o máximo de proveito da relação. Afinal, trabalhar menos para ganhar a mesma coisa é uma forma muito coerente de "maximizar seu lucro", pois se está ganhando mais pelo mesmo produto/resultado.

Essa comparação capitalista nos leva a um segundo aspecto da relação empregador-empregado, mais psicológico. O que se vê aqui é um egoísmo exacerbado de ambas as partes. Cada um está muito mais preocupado com o "seu", com sua satisfação, bem-estar e lucratividade. É uma visão bastante torta da ética utilitarista, uma relação de ganha-perde em que cada um tenta tirar o máximo do outro, sugá-lo até virar uma uva passa, sem compreender que sem o outro não há sequer uva. Então essa relação egocêntrica se transforma em um grande círculo vicioso de raiva e rancor, um estúpido e inconsciente "perde-perde" sem fim...

Ampliando tal visão, chegamos ao aspecto sociológico do tema. O humano é um ser gregário por natureza, logo, tende a se agrupar em bandos por similaridade de interesses. Assim, os patrões se reúnem em seus encontros da high society, sutis por fora e brutos por dentro, em seus sindicatos e federações, enquanto os empregados se reúnem em torno de qualquer grande mesa, regado a muita música, comida e bebida, também em seus sindicatos e federações. Cada um falando mais mal possível da outra parte, sem compreender que só estão a multiplicar esta raiva inconsciente da qual já nem se sabe mais a origem primeira.

A quem favorece realmente essa lei subjetiva do menor esforço? No final das contas, favorece apenas àquele que é nosso grande sócio, que participa com 40% em qualquer negócio sem sequer precisar assinar nada, aquele que está acima de tudo, que nos comanda com sua mão invisível: o Estado. Afinal, ele leva sem pestanejar de ambas as partes os impostos, sem considerar a justiça da relação ou a ambiguidade paradoxal da contra-relação.

Mas este não é um artigo para falar de governo, e sim das relações humanas. De quão instáveis são e quão paranóicas inclusive. Agimos contra o outro porque "achamos" que o outro também está a agir contra nós. É como se fosse parte do instinto de sobrevivência... mas já não passamos dessa fase límbica de reagir em uma eterna síndrome de luta ou fuga? Já não deveríamos ter aprendido, depois de algumas dezenas de milhares de anos dessa nossa existência humanóide, a sentar e conversar, a buscar na maioria das vezes o bem-comum, ou pelo menos o que seja o bem-comum naquele momento para ambas as partes?

E isso se aplica não apenas para a relação de emprego, mas também nas amizades, nos relacionamentos familiares e, principalmente, afetivos. Devemos sempre buscar uma negociação ganha-ganha, fazer mais do que o menor esforço para que tudo dê certo não apenas para nós mesmos, mas para o outro.

Não parece fazer muito mais sentido que os indivíduos trabalhem sempre unidos por um mesmo ideal? Claro que cada um de nós abraçará, ao longo da vida, centenas de pequenos ideais, mais um punhado de outros bem grandes. Porém, a caminhada é sempre mais divertida e produtiva quando não é feita só.

Afinal, a união não faz só açúcar...


3 comentários:

  1. Realmente é um grande desafio fazer o empregado enxergar que ele também ganha com o crescimento da empresa. Parece-me que a eterna insatisfação e o não saber onde quer chegar está incrustado na mente dos que tem patrão.

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  2. Será que é por isso que o patrão é patrão e o empregado continua empregado? E depois des-empregado, hehe.
    É uma questão de polaridade, de mentalidade, de pró-atividade, de inércia...

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  3. Leandro Luís Rodrigues11 de fevereiro de 2011 às 01:05

    Creio que atualmente a coincidência entre propósito individual e propósito social não se dá. No momento em que existe competição profissional (seja para empregado ou empregador), surge um âmbito de negação do outro, sob o eufemismo "mercado da livre e sadia competição". A competição não é e nem pode ser sadia, porque se constitui na negação do outro. Há sempre um vencedor e um perdedor.

    O trabalho e a competição são fenômenos culturais e humanos, e não constitutivo do biológico. A relação empregador-empregado se apoia no mesmo sentido, há a negação do outro como SER em prol de algo: em prol da empresa, dos lucros, da família, do lazer, do conforto, da necessidade, das taredas, etc. As emoções envolvidas no empregador são diferentes das emoções envolvidas no empregado, e o espaço "trabalho" acaba negando o outro de alguma forma.

    Nessas circunstâncias, o fenômeno de competição que se dá no âmbito cultural humano, e que implica a contradição e a negação do outro, não se dá no âmbito biológico. Os seres vivos não humanos não competem, fluem entre si e com os outros em congruência recíproca, ao conservar sua autopoiese e sua correspondência com um meio que inclui a presença de outros, ao invés de negá-los. Sem a aceitação do outro na convivência, não há fenômeno social.

    Só são sociais as relações que se fundam na aceitação do outro como legítimo outro na convivência, e tal aceitação é o que constitui uma conduta de respeito. As relações de trabalho se fundam no compromisso de cumprir uma tarefa e, nelas, o cumprimento da tarefa é a única coisa que importa. Isso se nota quando aquele que aceita o compromisso de trabalho tem alguma dificuldade de realização; quando isso ocorre o patrão se queixa e o empregado tenta explicar, mas independente da explicação, o que importa é que a tarefa seja cumprida. Ao mesmo tempo o empregado, ainda que tenha sido negado em suas outras dimensões, sabe que num certo sentido o que o patrão disse é legítimo frente ao acordo de realizar uma tarefa, mas se queixa e se sente injuriado.

    O problema é que funcionamos como se todas as relações humanas fossem do mesmo tipo, e não são. Existem relações hierárquicas, que se fundam na negação mútua implícita, na exigência e obediência e de concessão de poder que trazem consigo. Assim, as relações de poder e de obediência, as relações hierárquicas, não são relações sociais... E as relações de trabalho assim o são: tarefas delegadas, tarefas a serem cumpridas, e negação da vida pessoal.

    Finalizo reforçando que os seres humanos não são o tempo todo sociais; somente são na dinâmica de relações de aceitação mútua. Afirmo isso baseando-me na teoria da Biologia do Amor, muito bem trabalhada e descrita por Humberto Maturana. Infelizmente não pude aprofundar a teoria aqui, mas ao menos posicionei-me.

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