19 de agosto de 2011

E se houvesse o ctrl + z existencial?

Ontem eu abotoava a camisa para trabalhar pela manhã e precisei fazer um pequeno teste. Sabe aquelas golas de camisa com botões? Antigamente se usavam com gravata e abotoadas (talvez ainda se use, pois tudo agora é retrô ou vintage...).


Pois então, soltei as golas para ver como ficaria melhor, porém as casas dos botões eram pequenas e soltá-las não foi das mais fáceis tarefas. Após algum esforço de doer os dedos, tendo ajeitado a posição da camisa, concluí que de fato o ideal seria mantê-las presas, mesmo sem gravata. E lá foram meus dedos já ardidos a buscar uma missão sofrida para nossas falanges: fechar botões em cujas casas não cabem.



Nesse exato instante, tive um insight, um lampejo de lucidez que deve ter durado milionésimos de segundos, mas foi claro e contínuo como um filme: "cadê o ctrl+z para desfazer esse troço?"


E na mesma velocidade que a ideia veio, foi-se, solapada pelo julgamento racional: "ora, não seja tolo! Mas que seria uma boa, seria…" Muito mais tarde descobri que minha grande sacada já flutuava no inconsciente coletivo...


Mas a partir dali, ao longo daquele dia, muitas vezes me deparei com situações em que adoraria teclar ctrl+z: um telefonema atendido ou não, o restaurante do dia, a hora de chegar ou sair.


Confesso que foi bem divertido e minha imaginação foi longe, divagando entre um mar de possibilidades, escolhas, caminhos a seguir, das pequenas coisas do cotidiano às grandes coisas que mudam os rumos da existência.


Imagine como seria legal ter um ctrl+z escondido atrás de sua orelha direita. Cada vez que você toma uma decisão e logo depois não gosta do resultado, pronto, basta cancelar a operação e repetir a última ação. E mais! Você poderia ir voltando várias vezes, retrocedendo diversas ações até mudar uma escolha importante, redirecionando todo seu caminho.


Fantástico não? Pensando sobre isso, já fiz uma bela lista das coisas que eu desfaria pra refazer de outro jeito, e das outras tantas que voltaria apenas para poder depois re-refazer, repetindo o mesmo prazer incontáveis vezes.


Outro aspecto acabou pairando nessas elucubrações psicoeletrônicas: se tivéssemos liberdade de desfazer ações a qualquer tempo, retomar escolhas, mudaríamos constantemente nosso destino, exercendo plenamente nosso livre arbítrio!



Mas, ora, nós já não temos nosso livre arbítrio? Ok, concordo: vivendo em sociedade, o livre arbítrio nunca é assim tão livre, mas ainda temos o controle de grande parte do nosso destino, podemos decidir o que nos faz feliz ou não.


Sim, nós já somos livres. Tanto quanto o seríamos se nos fosse possível voltar no tempo indefinidamente. Não podemos dar ctrl+z nas nossas decisões diárias, mas se isso fosse possível, qual seria a graça da surpresa da vida?


Da briga com a gola de camisa ao infinito arrependimento de um rumo mal escolhido. Do deleite do chocolate meio amargo no fim da noite ao êxtase da companhia amada. Tudo é único, exclusivo momentâneo, efêmero.


E voltar ao efêmero é ainda mais efêmero. Retroceder, mesmo que uma vez só, ainda é retroceder, ou melhor, retro-ceder. Assim, vamos adiante, sempre em frente, avançando rumo ao futuro resultante de nossas escolhas de hoje. Mas ressalte-se: somos livres para tê-las, mas depois escravos delas.


Ops, isso é papo para outra conversa...



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