8 de janeiro de 2011

Comentários sobre os kirtans do SwáSthya

Tenho muito orgulho em poder dizer que o Método que pratico e ensino é a sistematização do Yôga Antigo, o qual, por sua vez, segue a corrente comportamental matriarcal, sensorial e desrepressora Dakshinacharatántrika e o sistema teórico naturalista Niríshwarasámkhya. Pois bem, a maioria dos kirtans do SwáSthya, intuídos por DeRose em um de seus muitos momento de inspiração, tem nítida tendência dessa linhagem Tantra-Sámkhya, evidenciando tais raízes filosóficas ancestrais. Vejamos esse aspecto sobre dois importantes kirtan do SwáSthya.
O kirtan Jaya Rámakrishnaya faz alusão a um conceituado Mestre de Yôga de linha Dakshinacharatántrika-Vêdánta, nascido no dia 18 de fevereiro de 1836 e falecido em 1886, considerado a encarnação de Krishna e de Ráma. Apesar de analfabeto, teve muita relevância no ensinamento do Yôga e do Hinduísmo em todo o mundo (Léxico de Yôga Antigo, Lucila Silva, Ed. Uni-Yôga, 2007). Conta-se que, quando os discípulos do iluminado Rámakrishna pediam-lhe para explicar o que era o samádhi, o Mestre simplesmente entrava em samádhi. Comparava a mente humana com um inquieto macaco, que tivesse tomado álcool, tivesse sido picado por um escorpião e, ainda por cima, se lhe tivesse ateado fogo ao pelo!
O mantra ÔM namah kundaliní representa uma saudação à energia ígnea cujo despertamento é imprescindível para o atingimento da meta do Yôga. Os Yôgas tântricos utilizam ativamente essa energia e buscam despertá-la sem medo, culpa ou repressão, e a raiz Sámkhya faz compreender ser esta uma etapa natural do processo evolutivo na senda.
Já o kirtan ÔM Shiva, ÔM Shaktí é uma clara homenagem aos dois primeiros tattwas (princípios) do Tantra, cujo estudo mais profundo pode ser obtido no livro Yôga Sámkhya e Tantra (Sérgio Santos, Ed. Uni-Yôga). Além disso, sua vocalização se dá de forma repetida, normalmente alternando-se quem vocaliza: ÔM Shiva vocalizado pelas mulheres e ÔM Shaktí pelos homens. Assim, pela sua repetição, seus efeitos são potencializados, produzindo ainda nyása com as propriedades inerentes a esses princípios tântricos fundamentais.
Já os kirtans Bhávajánandaji, Jaya jaya guru Dê jaya e Pátañjali ÔM namah guruji representam uma homenagem a três Mestres de grande importância no SwáSthya:
·    Pátañjali, cuja sistematização do Yôga Clássico permitiu que o Yôga fosse reconhecido como um Dárshana do Hinduísmo, fazendo com que essa filosofia não desaparecesse por completo, e chegasse até nossos dias, ainda que deturpada pela ação da linha do tempo;
·    DeRose, o sistematizador do Yôga Antigo, que resgatou no século XX essa estrutura desaparecida há milhares de anos, em um verdadeiro trabalho de arqueologia filosófica e cultural. Por seu trabalho incansável em prol do Yôga, é considerado o mais importante Mestre dessa filosofia na atualidade, com uma vasta obra publicada e milhares de discípulos atuantes em todo o mundo; e
·    Bhávajánanda, considerado o patrono da linhagem nobre do Yôga Tantra-Sámkhya. Através de samyama em seu nome e forma (nama-rupa), DeRose estruturou a sistematização do Yôga Antigo. Como ele mesmo relata: “Quem é Bhávajánanda? É meu Mestre, quer tenha vivido, quer não, pois foi através dele, ou seja, da motivação do seu retrato, que consegui me concentrar o bastante para ir ao fundo do inconsciente, resgatar conhecimentos ancestrais que são patrimônio da humanidade.” (Quando é preciso ser forte, DeRose, Ed. Nobel)
Por fim, o mantra ÔM namah prêma dêva guruji nos alude à importância da figura do Mestre no ensinamento do Yôga e na influência comportamental sobre a vida do discípulo, reforçando a tradição do parampará, tão valorizada no Yôga Antigo, no qual a transmissão do conhecimento se dava exclusivamente de forma oral, no período proto-histórico, em que ainda não havia a escrita.

(trecho elaborado pelo Prof. Rodrigo De Bona, publicado no livro
O Poder do Mantra, dos Instrutores Ricardo Melo e Caio Melo)


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