10 de janeiro de 2011

Mudrá: gesto de poder ancestral


O termo mudrá, em sânscrito, significa "gesto", "selo", "senha". Como 1º. anga do ády ashtánga sádhana (a prática básica do nosso Método, dividida em oito feixes de técnicas), mudrá significa "gesto reflexológico, simbólico e magnético feito com as mãos".

Entretanto, os mudrás podem e devem ser usados em todos os angas, não apenas nesta primeira parte da aula, pois potencializam o efeito de todas as demais técnicas, sendo assim fundamentais na aplicação prática do Fator Associativo, que faz parte da regra geral de segurança codificada pelo Educador DeRose.

Mudrá é a linguagem gestual. Alguns tipos de Yôga admitem mudrás feitos com o corpo. O Swásthya não os admite, dada a tradução do vocábulo e uma vez que as técnicas corporais possuem outro nome: ásana. Os mudrás têm sua origem na ancestral tradição tantrika, e tanto o Yôga quanto a dança clássica hindu, o Bhárata Natya, deles se utilizam.

Os mudrás são usados no Yôga como chaves, selos ou senhas, para permitir o acesso a determinados setores do inconsciente coletivo (espaço sutil onde estão armazenados todos os conhecimentos e feitos da Humanidade desde seus primórdios). Em nosso organismo, eles atuam por associação neurológica e condicionamento reflexológico: através de um gesto, podemos interferir em nossos condicionamentos – tendências subconscientes (samskára e vasaná) – e acessar nosso inconsciente e o inconsciente coletivo, alterando estados de consciência.

Por isso, são definidos como reflexológicos, por desencadear uma sucessão de estados de consciência e mesmo de estados fisiológicos associados aos primeiros. Como exemplos desses, pode-se citar o Shiva mudrá, que proporciona um estado de receptividade, e o prônam mudrá, que desencadeia um estado de Yôga no sádhaka.

Já os gestos magnéticos atuam da seguinte forma: o corpo humano, como qualquer porção de matéria orgânica, possui magnetismo e polaridades. Energias (o prána e suas diferentes formas) fluem em quantidades e qualidades distintas por todo o organismo. Em suas extremidades – as mãos, modificando-se a disposição e a combinação dos dedos, diferentes reações eletromagnéticas se manifestam. São usados principalmente no pránáyáma, a fim de fechar circuitos eletromagnéticos de bioenergia, evitando a dispersão ou perda do prána, dirigindo-o e manipulando-o de acordo com a técnica que estiver sendo feita. Exemplos: o jñána mudrá e o átman mudrá, para pránáyáma, e o prônam mudrá, que durante o mantra fecha um circuito, fazendo circular energia por todo o corpo recarregando-o.

Os simbólicos, como o próprio nome já diz, simbolizam algum objeto: animais, flores, sol, lua etc. Estes gestos provêm do tempo em que o ser humano tinha muito mais contato com a natureza e a representava no dia-a-dia por meio da movimentação das mãos, ainda nos primórdios da criação do Proto-Yôga. Dentre os 108 mudrás sistematizados por DeRose, a maioria são gestos puramente simbólicos, portanto sem atuação reflexológica ou magnética, como o matsya mudrá, o mrigasírsha mudrá e o ardha súrya mudrá, dentre muitos outros.

Porém, muitos dos mudrás simbólicos são também reflexológicos, pois são gestos arquetípicos já impregnados no registro akáshico, como por exemplo o nandi mudrá, o Shiva linga mudrá e o áváhita mudrá. Há também aqueles simbólicos e magnéticos, pois, além de representar um objeto, ainda atuam na potencialização das polaridades orgânicas, como o próprio prônam mudrá, que fecha um circuito durante o mantra e também simboliza um cumprimento formal entre os praticantes.

Existem ainda duas categorias de mudrá: samyukta hasta mudrá, quando feito com as duas mãos, unidades ou separadas, e asamyukta hasta mudrá, feito com uma mão só.

Observações importantes:
1) Mudrá é muito mais a vivência profundamente concentrada e receptiva do gesto, com intenso bháva, e não apenas a colocação das mãos em uma posição, sem vivenciá-la.
2) Se os mudrás são uma tradição tantrika, o praticante de Swásthya – um Yôga de raízes tântricas – deve cultivá-los com sensibilidade e dedicação, cravejando-os em sua prática diária e, com muito mais empenho, em seu treinamento de coreografia.

Aproveite os mudrás e expanda sua consciência até as extremidades das mãos. É uma experiência fantástica! Depois, o corpo já não será mais o seu limite...
    (Texto adaptado do livro Tratado de Yôga, DeRose, Ed. Nobel)

    2 comentários:

    1. Leandro Luís Rodrigues14 de janeiro de 2011 às 15:17

      Ontem, estava andando pela sala de prática e percebi (após meses praticando o pré-yoga ali) que há um quadro com posições de mudrá na parede, ao lado do quadro negro.
      Ontem, perguntei-me: Pra que serve esse mudrá? Quando eu uso isso? É frescura ou apenas gestos para encantar?
      E hoje, resolvi ler teu blog e encontrei as respostas para meus questionamentos hehehehe!
      Adorei!
      Quando eu dominar melhor os àsanas, pedirei à Lu para me ensinar os mudrás.

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    2. Tudo a seu tempo, hehehe.
      Dominar a consciência gestual é a própria amplificação da consciência, primeiro até o limite das extremidades do corpo (mãos em mudrá e pés estendidos no ásana). Depois, o corpo não é mais seu limite, e você pode expandir sua consciência até onde quiser, quando e como quiser.

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